2013 é um ano de celebrações para Avril Lavigne. Ela acaba de comemorar 11 anos de carreira, de se casar pela segunda vez, e agora traz seu quinto álbum para o mundo da música, o epônimo Avril Lavigne. Descrito pela cantora como “diverso”, e até mesmo “difícil de entitular”, o CD traz treze faixas e uma capa inusitada: a própria cantora, explícita, bem perto da câmera e nada mais.

Mas o que dizer sobre o álbum após ouvi-lo cuidadosamente?

Avril Lavigne é basicamente um álbum sobre amor, juventude e sexo. É possível traçar linhas e separar o álbum em três lados diferentes. Do primeiro, temos faixas que falam sobre amor, término e recomeço e foram, claramente, escritas por uma Avril pós-divórcio. Vemos aqui o fim de seu relacionamento com Deryck Whibley (da banda Sum 41) e Brody Jenner (aquele mesmo, quase Kardashian), e o começo do namoro e casamento dela com Chad Kroeger. Faixas que se enquadram neste grupo:

HELLO HEARTACHE (5 estrelas) é provavelmente a faixa mais madura escrita para o álbum, tanto lírica quanto vocalmente. Lavigne explora seus vocais em um tom mais grave e se distoa quase completamente de The Best Damn Thing e seus refrões chicletes. É o tipo de faixa que ela poderia tocar acompanhada de uma banda de blues em um bar ou café inglês e ainda assim, cativaria seus fãs.

FALLING FAST (2 estrelas) é, sem dúvida, uma faixa madura. Sua batida é simples e a voz de Lavigne é angelical e lembra Alanis Morissette e Dolores O’Riordan (Cranberries). Contudo, a faixa praticamente passa despercebida no fundo do CD . O motivo disso? Já existem faixas como essa em diferentes CDs de diferentes cantores. No caso de Falling Fast, cuja letra provavelmente foi escrita para Kroeger, fica claro de que ela permanece no álbum simplesmente por ser aquilo que Lavigne tinha a dizer, não por contribuir com ele musicalmente.

LET ME GO (4 estrelas) é o primeiro dueto de Avril Lavigne (se considerarmos que Girlfriend Remix não é propriamente um dueto), escrito e gravado com seu novo marido. É decidida e prega o desapego de um relacionamento para o começo do outro. Os vocais são bem sincronizados, o instrumental é fantasmagórico, e Avril Lavigne nunca soou tão segura de si mesma. O que a impede de ser um single de sucesso? Talvez o fato de que não é “material de rádio”. Ela se prolonga demais: poderia durar pouco mais de dois minutos, mas Lavigne e Kroeger a estendem por mais de quatro apoiando-se em vozes mixadas e um instrumental caprichado. E o segundo motivo é o fato de que ela, apesar de tudo, não é original. Original para Lavigne, talvez, que nunca ofereceu um single tão emocional, mas não para Kroeger. A faixa poderia estar em qualquer CD da banda Nickelback. E, infelizmente, nem mesmo Lavigne consegue fazer com que soe inovador. Excelente faixa, não um bom single.

HUSH HUSH (4 estrelas) fecha o álbum com “chave de ouro”. Assim como com Goodbye, Lavigne encerra o álbum e seu relacionamento de uma só vez. A faixa oferece um refrão marcante, mas fica devendo apoio vocal. Lavigne, famosa por seus agudos (e graves também, como vistos de Let Me Go) prolongados e afinadíssimos, fica devendo um pouco de “perda de controle” nesta faixa.

De um outro lado do CD temos o retorno daquela Avril Lavigne que nos deliciou em 2002 com seu primeiro álbum, Let Go, em uma parceria inusitada com L.A. Reid. O reencontro é celebrado, assim como os dez anos (agora onze) de carreira da cantora, com faixas saudosistas, descontraídas e leves que remetem aos dezessete anos de Lavigne e trazem um toque de seu The Best Damn Thing.

ROCK N ROLL (3 estrelas) é agressiva, forte e oferece tudo o que Lavigne se propõe a fazer: mostrar que AINDA é rock and roll. Rock em atitude, nem sempre em música. Avril sempre foi fã de um bom rock (ela até mesmo cita Radiohead), mas isso não a impede de vender música que não o seja. A pergunta que não quer calar é: porque Rock N Roll, com um clipe caprichadíssimo, não explodiu nas rádios e vendeu como os singles anteriores da cantora? A resposta é simples: infelizmente a faixa já existe. Você já ouviu aquela batida em I love rock and roll, aquela letra já apareceu em Bad reputation e o estilo dela já foi ouvido e reouvido em Smile e Girlfriend. E as pessoas já ouviram essas faixas tantas vezes, que RNR soou como mais do mesmo. Infelizmente, se autodenominar “the motherfucker princess” não choca tanto quanto em 2007, quando Girlfriend foi número 1 por semanas consecutivas exatamente por ser original.

HERE’S TO NEVER GROWING UP (4 estrelas) é deliciosa. É uma brincadeira de Lavigne com os fãs e com o mundo. Quem nunca viu uma foto da cantora em 2002 e outra em 2012 e se perguntou: ela nunca envelhece? Tantas piadas… (Avril Lavigne é vampira… Avril Lavigne é imortal) E como ela reage a isso? Lançando um single que celebra o fato de que ela não envelhece e de que nunca vai mudar. Como melhor comemorar uma década de carreira do que se baseando em seu primeiro hit (Complicated, 2002) e com um vídeo que tem a mesma proposta (apenas trocando o shopping pela escola)?

17 (3,5 estrelas) é uma faixa simples. O instrumental é simples. O vocal é simples. Nada de desafiador para Lavigne. A batida remete ao seu primeiro álbum e é saudosista. Ela remete a sua juventude e um de seus primeiros amores. Um defeito? A história contada já foi vista por muitos em diferentes filmes: jovens se apaixonam, fazem loucuras, nadam na piscina do vizinho, roubam bebidas, e depois terminam. A melhor parte da música é quando Lavigne derruba as máscaras, os instrumentos, a história e se revela: “Eu me lembro como era/ A vida de cidade pequena/ Se eu pudesse voltar no tempo/ Dezessete”. Como não se emocionar ao ver a cantora nos lembrar que mesmo tendo se tornado “cosmopolita”, com uma linha de roupas, fundação, vários álbuns mundialmente famosos, ela veio de uma cidade mínima no interior do Canadá e que sente falta disso?

BITCHIN’ SUMMER (3 estrelas) é uma das faixas mais aclamadas pelos fãs. Tem uma batida pop leve e agradável. É impossível não notar a similaridade entre ela e sua outra faixa, Push, do CD anterior. O diferencial? O rap de Lavigne após o segundo refrão da canção. O toque a aproxima de sua “filha” Kesha e parece uma tentativa de dar um passo para o cenário atual da música. A importância de Bitchin’ Summer para o álbum? Bem, se ela se casasse com HTNGU e tivesse uma filha, seria uma das melhores faixas do álbum: Sippin’ on sunshine.

YOU AIN’T SEEN NOTHIN’ YET (4 estrelas) nos lembra de Hot, de The Best Damn Thing. A letra com uma mensagem mais sexy ousada e o instrumental leve e descontraído nos leva de volta para 2007 e Lavigne com sua blusa listrada contra o fundo verde. Há uma auto-confiança tremenda na personagem da canção. Quem poderia esperar isso da garota meio masculina que nos trouxe Sk8er Boi e que parecia tímida demais para falar de amor e sempre optar por humilhar os garotos? A faixa pode até nos lembrar um filme das gêmeas Olsen, mas é tudo aquilo que nos anima. Sem dúvida.

SIPPIN’ ON SUNSHINE (5 estrelas) não é original, não é inusitada, nem é algo que esperaríamos de uma cantora de quase trinta anos. Mas é impossível negar como a faixa cumpre exatamente o que se propõe a fazer: nos levar ao passado, ao verão, à juventude e a ideia de “viver a vida”. Sippin’ on sunshine também mostra o novo lado de Lavigne, o da ambiguidade. Pela primeira, Avril Lavigne utiliza do duplo sentido em uma faixa. Sippin’ on sunshine é uma metáfora para um beijo e toda a letra, que fala do verão e de diversão é, na verdade, uma desculpa para beijar. Como é possível ouvir a faixa e não se imaginar em uma praia com os amigos, vivendo a vida e se divertindo em um verão único? Mais uma prova do sucesso da parceria de Lavigne e Hodges.

Fica a dúvida então. Existe algo de original em um álbum que celebra uma carreira de mais de uma década? A resposta é sim. As três faixas a seguir são algo que Lavigne nunca ousou a fazer antes e que atraem a atenção exatamente por sua singularidade.

GIVE YOU WHAT YOU LIKE (5 estrelas) é uma das faixas mais sombrias compostas por Lavigne. Algo está errado. Há remorso e mágoa no ar e, para variar, a cantora talvez esteja errada. Give you what you like é indie, é pop e é triste. Em suma, tudo o que os fãs não esperam de Avril Lavigne. É exatamente aí que está a chave para o sucesso! Pela primeira vez, Avril Lavigne fala abertamente sobre sexo em suas músicas (algo que apenas ficava implícito em seus outros CDs) e sobre dormir com alguém para se sentir amada. O mais chocante é como a música nos prende por mais de três minutos sem um refrão explosivo e sem qualquer instrumental caprichado. Avril Lavigne cresceu musicalmente e esta faixa é a prova.

BAD GIRL (4 estrelas) é uma parceria inusitada com Marilyn Manson. Se existia debate sobre o estilo de Avril Lavigne, ele termina aqui. Manson declara Lavigne “uma das suas” ao gravar com ela e o selo dele é o bastante para afirmar que ela é rock. É claro que sentimos falta de Manson com mais do que backing vocals, mas o personagem dele não aparece muito mesmo. É a história de uma garota má que merece ser punida por seu amante que não quer nada além de sexo. Sexo novamente. Avril Lavigne não canta mais como uma virgem. O único defeito da música? Muito autotune: algo que Lavigne definitivamente não precisa.

HELLO KITTY (3 estrelas) é chocante. De tudo o que se esperava de Avril Lavigne, música eletrônica é uma das últimas coisas da lista. O que mais vem nessa lista? Ambiguidade e um toque lésbico. Ao contrário do que se esperava (uma vez que a cantora ama o personagem asiático Hello Kitty) a letra, na verdade, é um “olá” para uma certa “gatinha” que é, de fato, uma alusão as suas partes íntimas. A história é uma festa do pijama onde Lavigne brinca com as amigas e pede a elas para não contarem o que fizerem naquela noite, inclusive brincar com suas “gatinhas”. A faixa, cujo corpo é um pop rock agradável e bem mixado, cansa ao insistir em um eletrônico estridente e um pouco antiquado.

Uma última pergunta exige resposta: se Avril Lavigne é um álbum tão bom, por quê 2013 ainda não é o ano dela?

A resposta para esta questão é simples. A escolha de singles é responsável pelo insucesso da cantora com esse álbum. O que fez de Lavigne uma super estrela no passado? Os singles Sk8er Boi e Girlfriend que foram inesperados, criativos e ousados. Em 2002, todas as meninas queriam ser como Britney Spears e todas aquelas que não dançavam não tinham espaço. Eis que surge Lavigne com uma guitarra em mãos, roupas largas e uma mensagem rude e forte sobre ser quem você quiser. Em 2007, por outro lado, a mesma Lavigne renasce como mulher, oferecendo uma faixa cor de rosa, extremamente feliz e trazendo o power pop de volta. Se Katy Perry, Kesha, Nicki Minaj e outras cantoras vendem hoje, é graças a Avril Lavigne e seu inusitado single Girlfriend. E a pergunta que não quer calar é como fazer do álbum Avril Lavigne um sucesso? É impossível prever com certeza o que dará certo, mas é possível propor algumas estratégias… Que tal expondo o que há de original? Por que lançar o batido Rock N Roll e o não original Let Me Go quando temos três faixas totalmente inusitadas prontas para estourar nas rádios? Se você oferece mais do mesmo, só mantém aqueles que já gostam, se oferece o novo, arrisca alguns que gostam para conseguir vários que até então não gostavam. Uma boa estratégia seria ter lançado faixas como Bad Girl, que atrairia fãs de rock para o CD, Hello Kitty, que atrairia fãs de música eletrônica (e causaria uma reação de confusão nos fãs que se perguntariam como duas faixas tão diferentes poderiam vir do mesmo álbum), e Give you what you like, que atrairia todos os hipsters e fãs de música como da banda Fun. Uma vez que eles comprassem o CD, tarde demais! Eles se apaixonariam pelo álbum, conheceriam Avril do presente e voltariam (graças às faixas nostálgicas) até 2002 para conhecê-la melhor. Por fim, simplesmente para celebrar, Lavigne lançaria Here’s To Never Growing Up como o último single do álbum, com clipe repleto de fãs das diferentes tribos que ela coletou com os cinco álbuns, só para lembrar todo mundo que, a menina que cantou Sk8er boi, a pós-adolescente que gravou Girlfriend, a mulher de Give you what you like, a menina má de Bad Girl, e a garota sexualmente curiosa de Hello Kitty ainda são a mesma pessoa, e que essa pessoa nunca vai envelhecer.